domingo, 27 de julho de 2014

Volta a França 2014: 20 protagonistas

Chegada a Paris, final de mais uma Volta a França, a 101ª edição, a de 2014. Ao longo de três semanas muito aqui foi escrito sobre a prova rainha do ciclismo, a prova que chega ao coração de todos. Para finalizar, um olhar sobre 20 protagonistas deste Tour.

A Geral

Vincenzo Nibali: já muito aqui foi escrito sobre ele, que dominou as atenções desde os egundo dia. Para quem ainda não teve a oportunidade, recomendo sobretudo as crónicas Nibali como elogio ao ciclismo e A Tripla Coroa de Vincenzo Nibali.

Jean-Christophe Péraud: aos 37 anos é o segundo homem mais velho de sempre a subir ao pódio pela classificação geral, superado por Raymond Poulidor. Apesar da idade avançada, é apenas a sua quinta temporada como profissional. Fez uma corrida em crescendo de forma e nos Pirenéus foi quem esteve mais próximo de Nibali.

Thibaut Pinot: é terceiro classificado, é melhor jovem, mas é mais do que isso. Foi extremamente combativo durante toda a prova, tomando muitas vezes a iniciativa para tentar ganhar tempo na luta pelo pódio. O medo da velocidade continuará a ser falado por quem tem dificuldade em se atualizar, mas neste Tour Pinot mostrou que essa é uma questão ultrapassada.
Pela idade e pelo que festa nestas três semanas, tem legítimas aspirações a vencer uma grande volta. Até mesmo o Tour.

Alejandro Valverde: ao contrário de Péraud, fez um Tour em decrescente, como ficou demonstrado no contrarrelógio (muito aquém das suas capacidades). Com medo da concorrência interna, enviou Nairo Quintana ao Giro e o colombiano correspondeu às expectativas da equipa. Valverde ficou com o Tour e mais uma vez falhou.
Foi a melhor oportunidade da sua carreira. Froome, Contador e Talansky desistiram, Péraud perdeu tempo nos pavés, Pinot perdeu um minuto numa etapa plana e Van Garderem perdeu um minuto por queda. Ainda assim, é mais fácil colocar dois franceses no pódio do que Alejandro Valverde.

Tejay Van Garderen: teve um dia horrível no início dos Pirenéus, em Port de Balès, onde perdeu três minutos e meio para os seus adversários na luta pelo pódio. No final, foi esse o tempo que o retirou do pódio, porque no Tour não há espaço para dias tão maus.
Também tem a lamentar uma queda na primeira semana que lhe valeu um minuto perdido. A sua equipa preferiu manter Daniel Oss e Greg Van Avermaet no primeiro grupo, quando o italiano deveria ter esperado para ajudar o seu líder.
Repetiu o quinto posto de 2012 e é outro jovem que pode almejar a vitória em qualquer grande volta. Já não é apenas o contrarrelogista que se defende na montanha.

Romain Bardet: perde o quinto lugar por dois segundos, com um furo no contrarrelógio final, com a comunicação rádio e o ciclocomputador avariados. Sem informação alguma. Mas a queda para o sexto lugar nos últimos dias não deve tirar a atenção daquilo que foi este Tour para Bardet. Com apenas 23 anos, ainda tem uma larga margem de progressão, tal como Thibaut Pinot. Há que dar-lhes tempo.

Leopold Konig: era a aposta da equipa para o top-10 e correspondeu com o sétimo lugar. Muito bem na montanha e ainda melhor no contrarrelógio, teve azar logo na primeira semana quanto perdeu três minutos devido a uma queda. O sétimo lugar é excelente para ele e a sua equipa, mas fica a ideia de que poderá fazer melhor no futuro, com mais experiência (e numa equipa mais experiente).

Astana: ninguém se destacou no apoio a Nibali, mas nunca faltou apoio a Nibali. As lesões de Fuglsang passaram desapercebidas graças às boas prestações (sobretudo) de Kangert, Scarponi e Westra. Fizeram o que tem que fazer uma equipa que quer vencer o Tour de France.

Ag2r La Mondiale: o pódio de Péraud, não foi obra do acaso e Romain Bardet não foi o único a apoia-lo. A vitória na classificação coletiva não foi obra de fugas e nada disto foi coincidência.
Houve constantemente quem apoiasse os líderes da equipa, algo semelhante ao que vimos em março no apoio a Carlos Betancur para vencer o Paris-Nice. A Ag2r tem bons valores e uma equipa aguerrida e focada num objetivo comum.
O líder escalonado para o Tour era Carlos Betancur, que ficou na Colômbia a comer, mas ninguém notou a sua ausência.

Os sprinters

Marcel Kittel: o sprinter mais forte em prova, com 5 vitórias de etapa. Todas as que disputou, da primeira à última, pelo segundo ano consecutivo. Perfeito.

Alexander Kristoff: depois da vitória na Milano-Sanremo, duas etapas no Tour dão uma enorme qualidade à temporada do norueguês. Além dum excelente sprinter, passa muito bem os pavés e tem tudo para ser um ciclista em grande evidência nos próximos anos.

Giant-Shimano: Kittel foi o melhor sprinter em prova, mas a sua imbatibilidade apenas foi possível graças à sua equipa. Não é apenas uma questão de ciclismo ou de desporto, é uma questão de organização. Uma equipa só funciona a 100% se todos os membros estiverem totalmente focados no mesmo objetivo. Na Giant todos sabem qual a sua missão e todos estão focados nela. Mereceram cada uma das cinco vitórias.

A montanha

Rafal Majka: depois do sexto lugar no Giro, foi chamado à última da hora ao Tou, para substituir Roman Kreuziger no apoio a Contador. Com a desistência do espanhol, virou-se para a classificação da montanha, o que acrescenta a duas vitórias de etapa e prestações sólidas nos Alpes e Pirenéus. Mas últimas quatro chegadas em alto não baixou do quarto lugar.

Joaquim Rodríguez: com a desistência no Giro decidiu apostar no Tour para vencer etapas, algo que desde logo critiquei, pois preferia vê-lo a 100% na Vuelta. Os últimos três vencedores da Vuelta fizeram-no sem antes ter disputado qualquer outra grande volta na temporada.
A participação de Purito começou pautada pelos seus constantes atrasos, tentando poupar-se ao máximo para as etapas de montanha, mas também demonstrando alguma falta de respeito pela prova. No final não venceu nenhuma etapa (o melhor foi um 9º lugar) e na montanha ficou longe de Majka (e de Nibali). Foram três semanas em que deveria ter preparado a Vuelta mas andou por França, ora a passear-se, ora a lutar contra a sua falta de forma.

Os supercombativos

Peter Sagan: foi um bom ou mau Tour para ele? Há argumentos para os dois lados, mas penso que os favoráveis pesam mais. Não venceu nenhuma etapa, mas esmagou a classificação por pontos, com 431 pontos contra 282 de Kristoff. Contou quatro segundos lugares e um total de nove entre os cinco primeiros. Noutros dias ainda andou em fuga.
O que lhe faltou? Uma equipa. Sagan não é ciclista para vencer os melhores sprinters numa chegada em pelotão compacto. Precisa de um terreno mais acidentado para anular os mais rápidos e de uma equipa que o ajude a controlar a corrida dos ataques e da desorganização frequentes neste tipo de território. A sua equipa fez um excelente trabalho para a sua única vitória na edição de 2013 mas desta feita não fez o suficiente. O caso mais evidente foi ainda na primeira semana, quando respondeu a um ataque de Van Avermaet e depois perdeu o sprint para Matteo Trentin no photo finish. Responder a Van Avermaet não foi um erro. Foi uma decisão forçada de alguém que estava sozinho contra tanta gente.
O contrato termina este ano e tem total liberdade para escolher o seu futuro.

Tony Gallopin: há grandes trepadores, há grandes sprinters, há grandes contrarrelogistas e há outros que são grandes ciclistas no sentido total da palavra. Não importa o território, e esta é uma descrição que poderia caber a qualquer um dos ciclistas incluídos nesta categoria. Vestiu a camisola amarela no Dia da Bastilha e, não se dando por satisfeito, ainda foi atrás de uma vitória de etapa. Fez pela vida e teve os dois prémios.

Tony Martin: apenas com um contrarrelógio nas três semanas, não se limitou a estar no pelotão nem a preparar as chegadas ao sprint. Fez um grande trabalho para Kwiatkowski fugido nas montanhas, venceu uma etapa de média montanha e o contrarrelógio final.
O melhor contrarrelogista da atualidade pensa nos Jogos Olímpicos de 2016 e a partir daí mudar o foco, procurando uma melhoria na montanha para lutar por provas por etapas. Provas de uma semana, porque três semanas parece demasiado para ele. Não há milagres.

Michal Kwiatkowski: desilusão na classificação geral, sem dúvida. Desilusão enquanto ciclista, nem por sombras. Não esteve ao mesmo nível de 2013, não esteve no nível soberbo do começo de temporada, mas demonstrou uma enorme garra, entrando em fugas para lutar por etapas e para reentrar no top-10.
É espetacular quando vemos a sua garra e polivalência aliadas a um bom momento de forma, o que não foi o caso.

Alessandro De Marchi: Super Combativo deste Tour, um prémio muito bem atribuído, que não gera contestação. Constantemente ao ataque, faltou-lhe uma vitória de etapa, mas a recompensa que não conseguiu na estrada chegou depois pelos votos para este prémio.

Europcar: não interessa quem, alguém tem que estar em fuga. Estiveram muito bem nesse campo, mas faltou conquistar uma etapa. Perante a melhor oportunidade, Rogers "enganou" Voeckler e Gautier. Ficaram aquém do objetivo, mas animaram a corrida.

Vive le Tour, Viva o Ciclismo!

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